As celebrações do tricentenário da Fundação da nossa congregação em 2003, reuniram diferentes grupos que trabalham na região da América Latina com o tema “a presença Espiritana na América Latina”. Entre os seus projetos comuns, lançar a missão espiritana na Bolívia era de especial importância: uma missão próxima do Brasil e do Paraguai, relativamente fácil de obter vistos, tinha uma abordagem pastoral aberta, num dos países mais pobres.
A primeira equipa de presença espiritana foi constituída com o P. Adalberto Ferrezini (Brasil), o P. Marcelino Cruz (México) e a associada leiga Maria de Jesus de Souza (Brasil). Duas décadas mais tarde, existem apenas quatro padres (do Brasil, Portugal, Tanzânia e Gana) e Maria de Jesus. À sua chegada, os Espiritanos assumiram uma paróquia na periferia pobre de Santa Cruz de la Sierra (San Juan Bautista), mais tarde dividida, dando origem à nova paróquia de Maria de Nazaré.
- Sergio Gualberti, Arcebispo de Santa Cruz, apresentou um novo desafio aos Espiritanos em 2014, pedsindo-lhes para assumir a Paróquia de Buenavista, em contexto rural, situada a 100 kms da sede da Diocese e nascida de uma das missões históricas dos Jesuítas.
Quando os Espiritanos chegaram a Buenavista, tentaram olhar para a sua sobrevivência e perceberam que o futuro poderia envolver um investimento agro-florestal. Falaram com os paroquianos e souberam que havia algumas quintas à venda, onde se podia cultivar. Decidiram comprar um “chaco” (o nome de uma destas propriedades agro-florestais) de 33 hectares, situado a 33 kms da Igreja, muitos das quais não pavimentados, impossíveis de percorrer durante a estação chuvosa, mesmo com jeeps 4×4! Lançaram uma campanha de apoio que permitiu que uma parte da factura da compra fosse paga, enquanto outra está ainda a ser paga em prestações. Depois tiveram de ser tomadas decisões corajosas para que os Espiritanos pudessem dar um testemunho ecológico às pessoas que animam. Foi neste discernimento que surgiu a ideia de avançar para o cultivo do cacau, cuja plantação requer a manutenção de árvores mais altas, pois a sombra é necessária. Assim, tendo preparado o “chaco”, avançou outra campanha: a de comprar os cacaueiros! Como resposta à necessária protecção da biodiversidade, para além do cacau, estão a ser postas no terreno outras plantas: café, mangueiras, abacateiros, goiabeiras e muitas árvores nativas, bem como numerosas bananeiras.
Trabalhar nestas terras é muito difícil. O calor é insuportável e os enxames de mosquitos ameaçam com a dengue e outras doenças graves. É um trabalho duro, não só para plantar, mas também para cortar as plantas daninhas que crescem tão rapidamente. Não podendo empregar ninguém actualmente, todo o trabalho é feito pelos próprios Espiritanos, o que fala bem da simplicidade e capacidade de luta destes “espiritanos todo-o-terreno”, como lhes chamam.
Proclamar o Evangelho implica falar de Deus, celebrar os Sacramentos, dar testemunho de uma vida digna, ser solidário com os mais pobres, ter um estilo de vida simples e fraterno, ouvir as pessoas, construir comunidades participativas; mas também ajudar as pessoas a amar a terra, a nossa casa comum, onde a dignidade da vida das pessoas e o nosso futuro estão em jogo.
O futuro está nublado, mas o sol está a nascer para a missão Espiritana na Bolívia. No seu primeiro Capítulo como Grupo Espiritano houve comunhão fraterna, avaliação, reflexão, partilha, oração e planeamento para o futuro da missão. Houve relatos em primeira pessoa das alegrias e dificuldades experimentadas durante os últimos vinte anos, com a constatação de que há muito a fazer na construção do futuro. Houve também uma menção a novos compromissos e ao reforço do que está a ser feito nas três comunidades paroquiais que lhes foram confiadas. A diversidade da presença Espiritana é notável, pois os missionários são provenientes de quatro países e três continentes: Portugal, Brasil, Gana e Tanzânia, esperando-se mais três: de Madagáscar, Angola e Nigéria!