Os pioneiros
No dia 28 de Junho de 1817 chegou no barco “O Elefante” o P. Guilloteau, da diocese de Angers, enviado pelo Sr. Bertout, Superior Geral da Congregação do Espírito Santo, Diretor do Seminário Colonial, encarregado de fornecer clero às colónias francesas de então. O P. Guilloteau será o Diretor do Colégio Real de S. Dionísio, nomeado depois Administrador Apostólico. É mais ou menos tudo o que sabemos dele. Não conhecemos nem o seu nome nem a data da sua morte nem sequer se ele era verdadeiramente espiritano. A sua chegada coincidiu com a das Irmãs de S. José de Cluny. Os primeiros Irmãos das Escolas Cristãs tinham chegado um mês antes.
Estes vieram ocupar o lugar dos “filhos” de S. Vicente de Paulo, os lazaristas, decimados pela Revolução Francesa. A eles se deve a implantação da Igreja na Ilha da Reunião ao longo de uma centena de anos.
Mas de 260 espiritanos
Nestes 200 anos foram mais de 260 os espiritanos, sacerdotes e irmãos, nascidos na ilha ou vindos de alguma das 80 dioceses francesas e de outros 15 países, que trabalharam na Reunião: alguns durante uns anos, outros durante toda a vida. Os noviços e escolásticos estagiários não estão incluídos. Alguns chegaram doentes e aqui morreram. Numerosos espiritanos navegaram as águas entre Maurício e a Reunião. Na sua obra, o P. Osty criou uma ‘galeria fotográfica’ dos vivos e dos mortos: mais de 160 fotografias encontradas e identificadas, com a ajuda da Srª Genoveva Karg, dos Arquivos Fotográficos de Chevilly-Larue da Suor Manuela Damour da diocese de São Dionísio.
Fundação da Missão da África Oriental
Entre os acontecimentos mais notáveis da história dos espiritanos na Ilha da Reunião, temos de referir a fundação da Missão da África Oriental. Em 1860, Mons. Dupont, com pena da situação dos escravos, enviou ao Sultão de Zanzibar o seu Vigário Geral, o P. Fava, também ele formado no Seminário do Espírito Santo, acompanhado de dois outros sacerdotes e algumas Filhas de Maria, congregação fundada pelo P. Le Vavasseur, e alguns leigos. Chegados lá, a Zanzibar, estes missionários aperceberam-se logo que se tratava de uma missão que os ultrapassava. O bispo da Reunião escreveu ao P. Scwindenhammer, Superior Geral dos Espiritanos, pedindo que assumisse tal fundação. Foi assim que começou a missão da Tanzânia com os primeiros missionários espiritanos enviados da Ilha da Reunião o P.Horner, Baur e alguns irmãos.
Superiores Gerais e bispos
Foram quatro os Superiores Gerais que, antes da sua nomeação, trabalharam na Ilha da Reunião: Warnet, Monnet, Le Vavasseur e Le Roy. Vários outros confrades foram elevados ao episcopado, três dos quais para a Reunião: Beaumont, de Langavant, Guibert. Outros seis foram escolhidos para bispos noutros países: Monnet, Vigário Apostólico de Madagascar.
Dubon na Senegâmbia, Le Roy no Gabão, Courtay na Guiana, Corbel em Madagascar, actualmente Mons. Wiehe, bispo das Seychelles. Ao lado destas figuras conhecidas, há muitos outros, mais humildes de nomeada, como os Irmãos enviados para tarefas sociais da Congregação em Providence a no Ilhéu de Guillaume, nos anos 1860-1880. A maior parte deles eram naturais da Reunião. No século XX, depois da criação do Seminário de Cilaos, uma quinzena de ‘reunienses’ se vieram a ser missionários espiritanos.
Este artigo está baseado no livro do P. Etienne Osty: Memorial dos Espiritanos na Ilha da Reunião – Três séculos de história missionária -Duzentos anos de presença em terra Reuniense 385 pp., 2016.
Respeito, emoção, admiração
A maior parte destes missionários inspiram uma simpatia imensa. A sua vida, de grande simplicidade, provoca não somente respeito mas até emoção e admiração. Isso recorda-me a descrição feita pelo P. José Lécuyer, no final do seu mandato, no ano 1974 , referindo-se aos confrades por ele encontrados e espalhados nos quatro cantos do mundo: “Isto leva-me a exprimir um sentimento que experimentei durante os anos do meu superiorato: a admiração pela generosidade de tantos espiritanos e pelo ideal que os anima…
Simplicidade: a recusa de tudo o que é complicado, extraordinário, rebuscado, deslumbrante, exorbitante; não à pobreza espetacular, nada de obediência trágica ou desgarrada, nem mortificações gritantes.
Mas é também e sobretudo a aceitação sincera da imitação de Cristo pobre, obediente, casto e crucificado, sem demonstrações ruidosas nem dramas inúteis para serviço dos mais deserdados. Pois bem, tudo isso eu encontrei em muitos espiritanos, daqueles que nada fazem só para que se fale deles, mas que estão prontos a tudo aceitar, a ir para qualquer lugar onde sejam enviados, adaptando-se a vida dos mais pobres, dedicando-se às tarefas mais humildes sem que nisso vejam algo de extraordinário ou anormal, muito pelo contrário, algo perfeitamente natural; sem querer, a sua vida irradia alegria e paz. É evidente que não posso dizer isto de todos os espiritanos. Mas são mais do que muitos pensam. O espírito da Congregação sobrevive e não é preciso extingui-lo”.
Origens diversas
A grande maioria dos Espiritanos da Ilha da Reunião provém de famílias modestas, isto é, do mundo rural; mas há alguns provenientes da nobreza; aqui na Reunião, dois dos nossos bispos, Beaumont e Nagavant, são originários de regiões tradicionais de recrutamento dos espiritanos franceses. Uma terceira parte dos confrades é originário dos distritos orientais da França: Alsácia-Lorena, a maior parte. Outra terceira parte dos distritos ocidentais, sobretudo da Bretanha. Os restantes do resto da França. Devemos ainda mencionar uma representação importante de Espiritanos suíços; pelo menos uns quinze na Ilha da Reunião, além de outros em Madagascar; um outro aspeto, interessante, e que se deve ao facto de pertencermos a uma Congregação missionária, é o caráter de “viandantes” de alguns deles: alguns chegaram aqui depois de ter passado largo tempo em Madagascar ou noutro país africano. Muitos outros, depois de ter passado alguns anos na Ilha, vão em demanda de outras paragens na África Oriental, Índia, no século XIX e ainda antes; na África Ocidental, na Europa, na América: Haïti, Guiana. Mas os vaivéns são mais frequentes dentro do Oceano Índico: Reunião, Madagascar, Maurício, sobretudo tratando-se de confrades ‘reunienses’, enviados na sua maioria fora da Ilha, nesta zona. Todos estas movimentações têm estimulado certamente a capacidade de adaptação que se constata em muitos dos nossos confrades criadores de obras notáveis e que deixaram rasto da sua passagem, em sítios como La Delivrance, Santa Ana, Cilaos, Chaudron etc…
Ilha da Reunião
Estatuto
Départemento ultramarino Francês
População
850.000 hab.
Superficie
2512 km2
Capital
Saint-Denis
Religiões:
Cristãos: 85%
Budistas: 7%
Muçulmanos: 2%
Paris-Ilha da Reunião
9.391 km
Evolução do Pessoal
No início do século XXI, a falta de vocações no hemisfério norte provoca mudanças muito rápidas a nível do recrutamento na Congregação. Em quinze anos a cor das nossas caras mudou muito. Em 2001, ainda éramos quase todos brancos, franceses ou suíços, e alguns confrades de cor. Em 2016, em 18 confrades, ainda há 6 brancos, a maioria já idosos. Os restantes provêm de Madagascar(4) do Congo Brazzaville(3), Tanzânia(2), Senegal(1) Angola(1) Congo Democrático(1). Que mudança em 15 anos!
Avaliação espiritual
Quais os perfis espirituais que podemos desenhar baseados nestas informações? Terão sido santos os nossos confrades, tal como muitos gostam de os recordar? Digamos para já que foram homens, certamente entregues a Deus e às suas ovelhas, mascomo sereshumanos, pecadorescomo o somos todos nós. No ano passado, escolhido como Ano da Misericórdia pelo Papa Francisco, o Senhor terá certamente reconhecido os seus méritos e ter-lhes-á perdoado o que era necessário perdoar. Mas lendo as suas notas necrológicas podemos pensar que a maior parte foram missionários religiosos, santos, que chegaram ao limiar da eternidade depois de terem escrito coisas definitivas no mármore da sua vida. Alguns, como o P. Boiteau ou o P. Rimbault morreram, como se diziam antigamente, em odor de santidade. A piedadepopular, de certo modo, já os canonizou: Vox populi, vox Dei! Outros, mais próximos de nós (penso nos padres Estêvão Grienenberger ou luis Rigolet, suscitaram veneração idêntica. Mas a maior parte deles foram tão ‘atípicos’ e originais na sua maneira de ser e de viver a sua espiritualidade que terão dificuldade de entrar pelos cânones habitualmente exigidos pelas Causas dos Santos. Mas o que não tem dúvida é que deram vida a esta Igreja. Alguns viveram aqui 60 anos e mais. Outros aqui morreram, foram enterrados na maior parte nos cemitérios das nossas paróquias; ou as suas cinzas poderão servir para tornar esta terra fecunda. Muitos marcaram, de maneira duradoira, o povo de Deus da Ilha da Reunião.
Celebrações dos 200 anos na Ilha da Reunião
Segunda-feira, 15 de Maio de 2017
Nos passos do P. Boiteau.
Domingo, 21 de Maio de 2017
Concerto decoros paroquiais dos espiritanos, em S.Paulo.
Segunda-feira, 22 de Maio de 2017
Nos passos dos padres Rimbault e Griengenberger em S.Dionísio S.Bernardo.
Segunda-feira, 29 de Maio de 2017
Conferência de D. Gilberto Aubry em Rivière- des-Pluies
Quinta-feira 1º de Junho de 2017
Nos passos de Le Vavasseur.
Domingo, 4 de Junho de 2017
Missa dos Duzentos Anos da presença espiritana em Rivière-des-Pluies presidida por D. Aubry