Desde o início, Francis Libermann exortou os Espiritanos, enquanto missionários, para se esquecerem dos costumes e espírito europeu quando trabalhando na África. Seria um pouco ilusório imaginar que esse ideal fosse sempre observado. A Segunda guerra Mundial expôs a natureza ambígua das relações entre as missões e as políticas colonialistas. Os africanos foram arrastados para uma guerra que não tinha nenhum significado para eles. Mas isso teve um efeito de despertar a consciência política própria e acender o desejo da independência nacional;
Depois da guerra, esse movimento de independência tomou força. E enquanto o clero local, e também as irmãs, cresciam numericamente, surgiu um sentimento correspondente aquele nacionalismo na própria Igreja local. Era a sensação de que eles estavam se tornando capazes de administrar seus próprios assuntos.
A Igreja foi ficando mais afastada do governo colonial
O Direito à Vida e Independência
No mês de dezembro de 1939, quarto meses após a deflagração da guerra, Pio XII transmitiu a sua mensagem de Natal enfatizando o direito de cada nação à vida e à independência.
“Para que haja uma paz justa e honrosa todos devem aceitar o princípio fundamental do direito à vida e à independência de todas as nações grandes e pequenas, fortes e frágeis. O desejo de vida de uma nação nunca deve resultar na sentença de morte de outra. Quando essa igualdade de direitos tem sido ignorada, destruída ou colocada a perigo a ordem jurídica exige uma restauração, mas seu tamanho e extensão não são determinados pela espada ou pelo egoísmo arbitrário e sim pelas normas de justiça e equidade recíprocas.
Tais direitos não eram limitados aos países europeus envolvidos no conflito. Aplicavam-se igualmente aos países africanos que viviam sob um regime colonialista estrangeiro.
No mês de dezembro de 1953, no ensejo de uma insurreição em Madagascar, os bispos daquele país enfatizaram a legitimidade do desejo de independência.
A Igreja foi ficando mais afastada do governo colonial, situação semelhante ocorreu em Tanganika.
O sistema político colonial caminhava para o fim, tendo durado três quartos de século. De acordo com Joseph Michel, um escritor Espiritano, “Embora podendo ter sido legítimo em suas origens ou honesto na sua prática a consequência natural para a colonização é a descolonização”.
No dia 1 de janeiro de 1962, vinte Espiritanos foram massacrados em Kangolo.
Um Momento de Tristeza
No dia 1 de janeiro de 1962, vinte Espiritanos, dezoito dos quais belgas, foram massacrados em Kangolo. Eles não foram mortos por causa da nacionalidade, mas por conta da fé que professavam. Dois outros padres, algumas irmãs e seminaristas juniores e todos os africanos que haviam testemunhado os assassinatos seriam mortos na tarde do mesmo dia, não fosse a chegada de um oficial superior que evitou a segunda chacina.
Expulsão da Guiné
A Guiné tornou-se um país independente da França em outubro de 1958. Um sistema unipartidário foi criado que assumiu toda a formação dos jovens. O Bispo Espiritano de Conakry, Mons. Gérard de Milleville, protestou e por esse motivo foi expulso do país no ano seguinte. Um ano depois, Mons. Tchdimbo foi nomeado o primeiro guineano Arcebispo de Conakry. Mais adiante, em 1 de maio de 1967, o Presidente Sékon Touré declarou que todas as igrejas seriam africanizadas e os sacerdotes estrangeiros removidos da Guiné.
No final de maio, três aviões partiram de Conakry com 163 missionários a bordo, incluindo 64 irmãs. A missão continuou sob a direção do Mons.Tchidimbo, um Espiritano, com 8 sacerdotes e 12 irmãs que lá habitavam. No dia 1 de junho, chegaram 13 padres africanos, que dominavam a língua francesa, para ajudar a Igreja da Guiné.
Guerra Civil na Nigéria
A Guerra civil eclodiu na Nigéria em 1968. Morte e destruição aumentava, enquanto o combate continuava sem vista um final aparente. No início de 1969 os Superiores Gerais de vinte congregações religiosas, com missionários servindo em todas as partes da Nigéria, emitiram um manifesto conjunto declarando o compromisso de procurar atender as necessidades espirituais e humanas nas áreas em dificuldades.
Biafra, Direitos Humanos e Autodeterminação na África
O Presidente Julios Nyerere disse: “À luz destas circunstâncias, a Tanzânia se sente obrigada a reconhecer o revés que ocorreu para a unidade africana. Por essa razão, nós reconhecemos o Estado de Biafra como uma entidade independente e soberana e como membro da comunidade das nações. Somente através deste ato de reconhecimento podemos nos manter fiéis a nossa convicção de que o propósito da sociedade e de toda organização política é a assistência ao homem”.
Expulsão do Haiti
Em 15 de agosto de 1969, sem nenhuma comunicação prévia, um haitiano leigo e nove sacerdotes, dos quais cinco Espiritanos, foram intimados pelo Ministério da Religião na capital Porto Príncipe. Eles foram acusados de possuir idéias antigovernistas e imediatamente expulsos de seu país. Os confrades Espiritanos eram professores na Faculdade de Saint Martial, em Porto Príncipe, que havia sido fundada em 1862.
Além disso, o governo proibiu mais outros dez Espiritanos de continuar seus ensinos em Saint Martial, contudo os autorizou a trabalhar nas paróquias. Depois disso, emitiram um decreto tomando dos Espiritanos a direção de Saint Martial e colocando nas mãos da Arquidiocese de Porto Príncipe.
Finalmente, em 1986, eles puderam retornar ao Haiti mais uma vez e em 1996 a Faculdade foi devolvida pelo governo à Congregação.
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